terça-feira, 14 de setembro de 2010

Encarando Laços

Era eu a espalhar bondade e sorrisos em fitas
Meu semblante intitulava sentimento fresco, braços novos, pernas grossas
A oblação perfeita, fui me tornando o inconsciente sacrifício.

Deixei que me ferisse, aportei em uma espécie de desencanto
Criei laços com universo, parecia a moça pura que agarra espinho de rosa.
Sangrei com a corrupção, tendo abruptamente rompido a esperança.

Em um grito me despi, em um gemido me ofertei,
me tornando prostituta da razão, endureci-me num semblante.
Com o ofício aprendi o que não queria
Observei fingir e enganar o amor, cegou o sentimento.

Perdi as contas de quantas vezes o seu nome foi dito
Rogado, invocado e truncado em vão, o amor!
Um pedaço de mim escureceu, adoeci.
Vendei os olhos com os laços das mãos:
Essa não sou eu, não quero mais brincar lá fora.

Corro para a casa, sou filha-visita!
Enxergo minha essência sentindo falta de mim
Em uma espécie de mãe-própria, afagando a vida no peito.
[Vou me convencendo com as velhas mentiras de mãe]

Venerando mãe-mulher, uma deusa secreta.
Sendo metade das pessoas que me visitam,
E quase a totalidade daquelas que me compreendem.

Soltando os laços secos desses sentimentos.
E soltos todos os laços não são laços,
São tiras erguidas ao contrário, não correntes.
Todo laço breve suplica Liberdade.

Solto tiras e as uso em pessoas, portas e punhos;
em redes e redomas, cabeças e curvas, vendas e vestidos.
Em uma espécie de poesia textil de alívio
me sinto na necessidade de desamarrotar o amor.

***

A ilustração desta postagem está encondida. Clique aqui e vá até o trabalho de Jana Magalhães: Laços e Libélulas (pelos laços do texto e pela libélula que trago no corpo).

6 comentários:

ErikaH Azzevedo disse...

Talvez ficar adulto seja a forma mais certa de se crescer pro lado errado, eu sei... mas promete pra mim manter estes teus olhos embutados pra fora, pro que não te cabe,nem te compreende, pro que não te espelha,nem te surpreende... por que são esses olhos embotados pra fora que te fazem preservar o que lhe vem dentro, o que faz a diferença.

Sabe a frase , não sonho mais o mundo , só sonho a mim né...ela cabe muito bem aqui.Esse teu sentir fazendo par com o meu.

"(...)Essa não sou eu, não quero mais brincar lá fora.

Corro para a casa, sou filha-visita!
Enxergo minha essência sentindo falta de mim(...)"

Eu não sinto falta de mim em mim, por vezes eu sinto é a falta de mim no outro....essa sensação de ser sozinha , acompanhada por poucos...as vezes eu não me sinto do mundo, e hj eu tive a dimensão de que com vc tb é assim(e eu confesso ser muito bom te ter como companhia)

Tu me és em quase totalidade, pq eu te compreendo, e mais que compreender, eu te sinto, pq sinto-me igual.

Que se desfaça o enlace dos sentimentos secos, desses que não fertilizam nada, e nem ninguém...mas que existem aos montes por aí. Esses que banalizam o amor e ficam a margem dos sentimentos mais nobres.

Façamos um laço nos bons sentimentos, os que dignifiquem o homem, tragam o senso de humanidade no olhar... sentimentos que sejam livres. O laço carrega nele a liberdade, desse estar-se preso por vontade, o que o difere do nó....


Adorei o jeito que fizeste com a ilustração...esse respeito que tiveste com a autora tb me emocionou,assim como o texto.

Eu me torno repetitiva, eu sei, mas seus texto me desconcertam , me reviram, mostram o meu avesso, fazem eu me sentir num além mais de mim....

Amei viu! Sou tua fã sim, incondicional, mas o que me faz mais feliz é ser também tua amiga, ter alguém como vc assim bem perto de mim.

Bjos

Erikah

Sônia Brandão disse...

É necessário ter coragem de desatar os laços para libertar a essência.

Gostei do seu trabalho e da ilustração também.

João Lenjob disse...

Muito bom mesmo. Tô encantado.
Conheça também meu blog por gentileza.

João Lenjob.

Vanessa Souza disse...

Passar o amor à ferro - e fogo.

aluisio martinns disse...

moça, traduz o indizível do sentir-se divido pelos muitos que somos entre hábitos, habitantes e habitat. Qual nicho vislumbra o lume entre o luxo e o lixo, vc pinta poesia e solitude - virtudes artísticas - na alma oprimida de gritos e lucidez. Brita que não nos deixa dormir covardia na janela da vida...
Comumente se diz: muito bom!!! Desta vez, nada direi, sinto profundamente e levará um tempo para digerir porque beleza dói, vida...

Anônimo disse...

Amor mesmo amarrotado é lindo se se ver,ler e sentir,ainda mais sendo restaurado por você!

beijo enorme flor minha...