O que não existe é a pertencibilidade do que quer que seja. Nem a palavra pertence à mente que a intencionou ou a boca que a proferiu. Dúvidas vorazes sobre a real necessidade de transcrever os sentidos em palavras. Conjunto de códigos que, hoje falido, é acontecimento raro ao transmitir integralmente a intenção. Porque a gente aprendeu a falar e se arrepender pelo simples motivo de não ser bem aquilo que a gente queria dizer. Por diversas vezes sofremos de uma espécie de falta de inteligência momentânea. De uma espécie de vazio verbal, porque, se não era bem aquilo que a gente queria dizer, então, o fato de dizer só se justifica pela falta de inteligência momentânea, simples assim. Não consigo mensurar se em algum tempo distante houve veracidade na palavra dita, ou no acordo selado por um fio de bigode. O que é de fácil constatação é o descontentamento que vai sendo gerado pela estripulia contemporânea de se dizer o agrado de cada dia. Como se fosse necessária a bajulação diária, talvez este último servindo de comprimido de autoimunização de vida.
Sou povoada por sentidos e, no meu caso, eles são muito mais do que cinco. Eles são aos milhares, porque aos convencionais se juntam e (des)ajustam os sentimentos. E, em se tratando de sentimento, não há como agrupá-los em grupo único; e, pela falta de agrupamento, eles seguem no movimento de contração por diversos cantos de existir, indiscriminadamente se fiando na capacidade da gente ser o que quer que seja.
Grande parte dos acontecimentos gritam aos ouvidos, dispondo as realidades mais diversas diante das faces. E o ato de escrever sobre, nada mais é do que a vontade de colocar as coisas do avesso, à mostra. Na melhor das hipóteses, a vontade é de virar a existência de cabeça para baixo e sacudir, só para ver quem trago nos bolsos ou para consignar a resistência das minhas costuras. Porque, em se tratando do que quer que seja, os seres humanos merecem um capítulo à parte. E, por mais que oscile entre comédia e tragédia, os acontecimentos que envolvem as pessoas não merecem classificações. Não por ser pior ou melhor, simplesmente porque as pessoas são diversas e mesmo assim e, por incrível que pareça, de tão diversas se tornam de uma obviedade esquisita; de tão óbvias se tornam entediantes, e assim sucessivamente até alcançarem o grau de serem desinteressantes. E é aí que mora a poética solidão de se ser sozinho, por mais que se diga que melhor é ser dois. O isolamento moral acontece não por qualquer noção estúpida de superioridade, apenas pela incapacidade de ser tão amoral.
No ser humano a evolução não deveria ser objeto de pesar, ela deveria acontecer da forma mais ordinária possível.
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