terça-feira, 6 de julho de 2010

Elástica

"Quero apossar-me do é da coisa. Quero possuir os átomos do tempo. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada. Mas bem sei o que quero aqui: quero o inconcluso. Quero a profunda desordem que no entanto dá a pressentir uma ordem subjacente. Um dia eu disse infantilmente: eu posso tudo. Era a antevisão de poder um dia me largar e cair num abandono de qualquer lei. Elástica." [Clarice Lispector]

Se eu não me conter, começo todos os registros do blog com textos ou trechos da Clarice. Não que isso seja ruim, mas eu não sou uma só, não tenho a pretensão de unificar as instâncias deste espaço virtual que tanto me alivia. Não consigo dizer que Clarice Lispector era uma poetisa/poeta, cronista ou qualquer outra classificação literária. Clarice, antes de qualquer coisa, sentia. Sua obra é apenas a transcrição potencializada dos seus sentimentos. Assim eu, em minha insignificância intelectual, classifico.

E, por falar em elasticidade e em classificações, o que eu sinto é exatamente isso, como se o meu ser fosse se tornando elástico, como se minha alma fosse laceando por conta de todas as manifestações contidas ali. Uma primeira atribuição à elasticidade é a inconstância. Tente pensar em algo elástico e vais perceber que é impossível se imaginar uma constância ou uma forma única. Não há quase nada que não possa caber dentro de um ser elástico. Não há absolutamente nada que uma mente elástica não possa compreender, aceitar já é diferente, e é aí que mora a inconformidade da elasticidade. Influenciável poderia ser outro aspecto. Uma pessoa, por ser elástica, vai tomando forma do ambiente onde está, claro que aqui implicam as potencialidades negativas da elasticidade, mas não falo de perfeição, falo de eeeelasticidaaaade. É mais excitante ser elástico do que ser rígido em uma convicção. É mais aceitável e interessante ser elástico do que ser estático. É de um tom mágico poder pensar em diminuir-se até caber em algo menor e esticar-se, para caber ou abraçar algo maior que você, até tornar-se transparente. Analogias a parte, o infinito é elástico.

Magia, elasticidade, inconclusão, transmutação, alcance! São as palavras que me acontecem quando penso no mar de inspirações vivenciado. E encontrar-me com o Mar é sempre o motivo da minha demora. É apenas uma atração fabulosamente estranha, como se só a sua visão barulhenta pudesse ser maior do que a agitação dos meus pensamentos, como se só o mar compreendesse minha inquietação. Sempre assim, sentindo e malabarísticamente elástica.

6 comentários:

Anônimo disse...

Uau Tati minha maravilhosa,você disse tudo que eu penso,concordo contigo em numero,genero e grau.Sabe também estou nesta fase,admirando mais ainda Clarice e Caio justamente por esse motivo,eles não se preocupavam e poetizar mas sim em passar o que sentiam,escreviam seus desabafos sem se importar com rimas,metricas ou simetrias,me encontro um tanto assim,querendo expor o que está contido em mim,sem buscar palavras dificeis que rimem ou combinem,apenas escrever o que sinto e sentir o que escrevo...Essa explicação da elaaasticidddaadee foi the best!!

Ah menina sou tua fã!!
Beijo gigantescoo e inababesco da Sophi!

Anônimo disse...

P.S:Inclusive ontem escrevi algo sobre isso,mas postei no outro blog o intimité,mas logo posto neste!
Claro que não com a sua classe e nem com tanto conteúdo,foi algo mais simples,escrachado e cabeludo!!rs...
Mais beijo!!!

O Neto do Herculano disse...

Clarice sempre me encontra.

ErikaH Azzevedo disse...

Temos que ser mais que elasticos sim, não o elastico que estica e volta ao seu ponto de origem qdo se solta, mas algo elastico que se amolde...pq somos no fundo , no fundo todos adaptáveis....precisamos ser

Não conhecemos verdades absolutas. A verdade absoluta está em ver com o que se sente e o que se sente pode bem mudar. Não existem constatações eternas só momentaneas, e o momento sempre morre e leve muita das constatações com ele.

Não dá pra ser dono da verdade, se nem sabemos se a verdade , de verdade existe num para sempre.

É filosofico sim, mas é assim que sinto...não sou voluvel, mas sou elastica, admito novas formas de agir, novos ideais, novos sonhos, novas formas de ver , admiro ver as coisas com outros olhos, e tb mudar o coração pra sentir de um outro jeito, o que eu não admito é deixar de sentir. ...rigidez em ser só nisso, mais nada.

Qto a Clarice, essa dispensa elogios meus...eu respiro clarice , vivo clarice em todas as minhas entrelinhas, no dia a dia... A clarice me ensina a ser e muita da minha elasticidade eu devo sim a ela.


Deio-te um texto que acho complementar o teu sentir, tá:

É ele:

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.




Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.

Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação..."

Alvaro de Campos

Assim como a Clarice , o Pessoa e todas as suas pessoas tb me encantam demais.

Bjos linda

Erikah

Anônimo disse...

Clarice sempre será!!

Ser elástico!!
E muitas pessoas não sabem e não admiram este dom. haha

Muito bom Texto!
Meus parábens.
Adorei a sua aula de elasticidade! hahahaah

Ps: se denpender de mim, também começo todos meus textos com algum fragmento de clarice! haha

Thalita Yanahe disse...

a mentira contada com verdade se torna real enquanto a realidade insiste em imitar rituais que não fazemo menor sentido
a vida etá no sonho
estique-se
até
transcender
...