terça-feira, 31 de agosto de 2010

As Abelhas de Plath

Encomendei esta caixa de madeira

Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é um ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.

Está trancada, é perigosa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.

Espio pela grade.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.

Como deixá-las sair?
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!

Escuto esse latim furioso.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.

Me pergunto se têm fome.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cerejas.

Poderiam imediatamente ignorar-me.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.

A caixa é apenas temporária.

["A chegada da caixa de abelhas" - Sylvia Plath. Tradução de Ana Cândida Perez e Ana Cristina Cesar]

Sylvia Plath. Poetisa norte-americana que viveu até o extremo as consequências de suas perdas e ganhos e de sua vida movimentada por altos de grande produção poética e baixos por suas crises e tentativas de suicídio até o seu alcance. Descobrindo uma mulher frágil, extremamente forte em uma poesia confessional. Trazendo à tona, talvez, o fato de que quanto mais ferida uma pessoa é capaz de se sentir, mais liberalidade de teorizar os sentimentos ela tem e, ainda mais, de transcrevê-los de forma pungente e significativa. Desobrigando os que esmiúçam sua arte, talvez, de passarem pelo mesmo teor, uma vez que já se encontraram dentro daquele mundo, por sua escrita.


2 comentários:

Paulo Tamburro disse...

TUDO BEM TATIANI?

O QUE ABUNDA EVENTUALMENTE, ESCASSEIA.

Este é um título perigoso, pois a colocação da virgula é tão imprescindível como a vestimenta de um astronauta, nas suas viagens espaciais.

Mas, indo objetivamente ao assunto e sem maiores churumelas ou subterfúgios , sempre gostei muito de pássaros , mantenho as gaiolas absolutamente, limpas, comida farta e água renovada.

Antes, não suportava a idéia de admitir um pássaro em cativeiro, com todo o espaço do mundo à sua disposição, o céu azul infinito e ele ter que ficar trancafiado.

-Como minha senhora? A senhora se sente assim, no seu casamento?

Perdoe , mas contente-se ao lembrar que um astronauta dentro da cápsula espacial ...

SE VOCÊ CONSEGUIU GOSTAR (RS), LEIA INTEGRALMENTE NO MEU BLOG DE HUMOR:

"HUMOR EM TEXTO".

LÓGICO, VÁ SE QUISER, MAS VÁ (RS).

PELO AMOR DE DEUS!!!!!!!!!!!!(RS).

UM ABRAÇÃO CARIOCA.

aluisio martinns disse...

Queria poder ter vivido o teu poema
Personificado e imortalizado assim
Melhor, queria ter sido a vida
Quando lí teu verso, Silvya
Plath!
Descambei vértebra por vértebra
Meus nervos não suportaram o peso vazio dos ossos
Nervosos, calcificaram o susto
A dor
Nossa dor de amor, Silvya
Petrificou-se na morte do meu espelho
Letra por letra
Nesta vida crua e cruel
Tão olho por olho e dente por dente
Mataram-nos
Acertaram nosso destino com um único tiro, Silvya
E Plath! Fomos enterrados com palavras concretas.
(aluisiomartinns)
Seus devaneios são luz para os que see julgam sãos e não o são, obviamente, porque viver tem alívio, tem graça, tem extase, mas não tem remédio.
abs
aluisio